O PIB CRESCEU POUCO. E DAÍ?
“Qual posição o Brasil ocuparia, caso medíssemos não o PIB, mas o nível
de conforto da população?”
Por Eduardo Fernandez
Celebrou-se,
há pouco, o anúncio de que o Brasil se tornara a sexta maior economia do mundo,
ou o sexto maior PIB. Com tanto território e população, isso era inevitável.
Mais recentemente, lamentou-se que o nosso PIB cresceu pouco, nesse 2012. E
daí? Há razões para celebrar, ou para lamentar?
Sabe-se que
é falso tomar o crescimento do PIB como sinal de melhora do bem estar, ou de
mais emprego. Logo, celebrar seu crescimento, ou falta de, é comemorar o fato
errado!
Qual posição
o Brasil ocuparia, caso medíssemos não o PIB, mas o nível de conforto da população?
Com essa medida – aliás desconhecida -, celebraríamos ou lamentaríamos?
A pergunta
faz sentido porque a atenção dedicada à evolução do PIB apenas se justifica com
base na ideia – falsa e enganadora – de que maior PIB leva a maior conforto do
público. O PIB mede valor monetário de algumas das coisas que fazemos, mas não
avalia nosso bem estar, e sabe-se que nem sempre o dinheiro pode comprar bem
estar. Medir o conforto do público, embora difícil, seria uma avaliação direta
daquilo que realmente interessa. A ideia pode parecer, mas não é, equivalente à
mensuração da qualidade de vida, porque envolveria outros aspectos do “viver”.
Há muitas
outras razões pelas quais deveríamos analisar o conforto público do cidadão, e
não o PIB, para avaliar como anda um país. Pesquisas já antigas mostram que, há
décadas, apesar da elevação do PIB, não aumenta a percepção de bem estar dos
habitantes de países desenvolvidos. No Brasil, podemos olhar, por exemplo, para
a região de Carajás, onde o PIB explodiu, mas as condições de vida da população
permanecem precárias. Como disse, o PIB pode ser enganador… Prisioneiros de
ideias superadas, quase todos os governos ainda perseguem o crescimento do PIB,
como faziam há décadas. Se antes já disseram, equivocadamente, “governar é abrir
estradas”, hoje diriam, da mesma forma, “governar é fazer crescer o PIB”.
A origem da
ideia de buscar o crescimento do PIB está na promessa de que o crescimento do
PIB levaria ao aumento do bem estar, afirmação que supostamente seria
“comprovada” pelo aumento do número de famílias com TV, carro, geladeira e
computador. Embora não sejam irrelevantes, todas essas medidas se referem ao
conforto privado, ou interno às casas.
E quanto ao
conforto público, o bem estar do cidadão, quando se está fora de casa? Quanto
tempo ele gasta para se deslocar de casa ao trabalho? Quais as oportunidades de
lazer existentes próximo às moradias? Qual o nível de segurança nas ruas, de
acidentes nas estradas, de limpeza do ar que respiramos, de qualidade dos
serviços públicos? As vias públicas são lisas ou cheias de buracos? A
sinalização dos locais públicos é suficiente?
Muito mais
que ter TV e carro, são esses fatores que indicam a qualidade de vida de uma
população de humanos. Para se medir o “conforto público”, porém, não podemos
nos limitar a um único número. Qual o sentido de se dizer que o “conforto
público” aumentou, ou caiu, 2%?
O “conforto
público”, claramente, tem muitas dimensões, aliás refletindo a própria ideia de
qualidade de vida. Claro, acesso à educação, saúde e justiça são fatores que
não podem estar ausentes de um indicador de “conforto público”, medida que
dificilmente poderá ser reduzida a um único número sem descaracterizá-la.
Também é fundamental avaliar o transporte público e, por exemplo, a qualidade da
urbanização. Será que as habitações em que moram os brasileiros situam-se em
locais onde há boa qualidade urbana, isto é, além dos básicos água e
saneamento, fácil acesso ao local de trabalho e a espaços de lazer que não
bares? Será que o grande crescimento do setor imobiliário brasileiro, nos
últimos anos, contribuiu para reduzir a gritante diferença, em termos de
qualidade urbana, entre brasileiros e, digamos, suecos?
Também devemos, é claro, nos comparar com outros povos que,
em termos de “conforto público”, são ainda menos afortunados que nós; afinal, o
planeta é um só. É fácil perceber, também, que esses indicadores nos dizem
mais, muito mais, em termos de qualidade de vida – e de governantes – do que o
velho e moribundo conceito de PIB. Além disso, a corrida por melhores posições
em tal lista faria muito mais sentido do que a irracional e destrutiva ânsia de
fazer crescer o PIB.
Um ponto de
extrema importância a se considerar, porém, é que uma diferença fundamental
entre os países “desenvolvidos” e os “subdesenvolvidos”, ou “emergentes”, é que
nos primeiros o “conforto público”, ainda que de difícil quantificação, é muito
maior que nos outros. Afinal, é nos países “desenvolvidos” que a educação, as
cidades, a saúde, o transporte, a sinalização, etc., são muito mais
“confortáveis” que nos subdesenvolvidos. Ou seja, muito mais importante do que
sermos a “sexta maior economia do Planeta”, ou saber que o crescimento do PIB
no trimestre foi alto ou baixo, é tentarmos alcançar posições mais elevadas nas
diversas escalas possíveis de avaliação dos vários índices possíveis de
conforto da população.
* Eduardo Fernandez Silva. Mestre em Economia, ex-professor
da UFMG, da FGV-BSB, da UCB e do IESB. Foi técnico da Fundação João Pinheiro e
secretário adjunto do Trabalho e Ação Social e de Assuntos Metropolitanos, em
Minas Gerais. Primeiro diretor-geral do Sest-Senat, é autor de diversas
publicações e consultor legislativo da Câmara dos Deputados.
(Postado em congressoemfoco.com.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário