FOGUETÓRIO

Na Holanda, é proibido soltar fogos de artifício, que só são permitidos na véspera do ano novo. Ai de quem soltar um rojão, ou o que seja, sem ser no réveillon, porque vai pra cadeia, com certeza. Em estádio de futebol e outros eventos, então, jamais. Pois é, país de primeiro mundo, né? Foguetório é coisa de gentalha.

Em SSCaí, até a prefeitura patrocina eventos com foguetório, dando muito mau exemplo. Daí, todos se acham no direito de, a qualquer pretexto, encher o saco dos outros. Aliás, no pensamento deles, isso só incomoda os cachorros e eles não estão nem aí. Besteira. Eu odeio foguetes e rojões e sei de MUITA GENTE que também odeia, contrariando esses idiotas.

Para acabar com a ignorância dessas pessoas, informo que MILHARES DE PÁSSAROS morrem por causa da barulheira, que, comprovadamente, perturba a saúde dos idosos, com o aumento da pressão arterial, e dos bebês, provocando choro e até vômitos. Viram? Não só os cachorros sofrem. Pelo jeito, esses “fogueteiros” odeiam gente também!!!

CAÇADOR BOM É CAÇADOR MORTO.

CARROCEIRO BOM É CARROCEIRO MORTO.

DEUS CRIOU OS PÁSSAROS, A MALDADE HUMANA INVENTOU A GAIOLA.

“Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o torturador, nunca o torturado." (Elie Wiesel)

"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." (Rui Barbosa)

"Existe 1 pessoa para fazer o bem, 10 para fazer o mal e 100 para criticar/atrapalhar quem faz o bem."

É PORQUE SOU TÃO TEIMOSA QUE INSISTO EM MUDAR O MUNDO."

(Mercedes Soza)

27 de abril de 2012

Peter Singer
Uma filosofia para consertar o mundo

Grande ícone dos estudos filosóficos sobre o Utilitarismo - a defesa dos animais e a distribuição de renda - o australiano Peter Singer acredita na Filosofia como mediadora dos debates sobre os problemas éticos contemporâneos

Por Laura Talchin

          Figura de destaque nas questões que tangem a Filosofia do Utilitarismo e a defesa dos direitos dos animais, Peter Albert David Singer sempre está envolvido com conceitos filosóficos polêmicos da contemporaneidade. Conhecido por seu trabalho que segue a tradição dos utilitaristas clássicos, suas ideias sobre felicidade, benefícios e danos, interesses e sentimentos se fundam na crença da existência de uma forma de vida que responda à equação segundo a qual o resultado de qualquer ação teria que ser o menor dano causado para o menor número de seres. Australiano, Singer se formou na Universidade de Melbourne e, mais tarde, na Universidade de Oxford. Hoje é professor em Princeton, nos Estados Unidos, mas é também professor laureado na Universidade de Melbourne.
          Em sua grande obra Libertação Animal, lançada originalmente em 1975 (e publicada no Brasil em 2004), ele defende que animais também podem sentir dor. Tendo no movimento “Libertação Animal” – não por acaso com o mesmo nome de seu livro – uma de suas principais frentes de estudos e pesquisas, ele se esforça para chamar a atenção para os danos que humanos causam às outras espécies. Para Peter Singer, o mais importante é que o máximo número de seres vivos se beneficie sempre. A Vida Que Podemos Salvar: Agir agora para pôr fim à pobreza no mundo foi publicado no Brasil em 2011 e trata sobre um mundo de riqueza exagerada e pobreza extrema. Para Peter Singer, a Filosofia tem a capacidade de nos lembrar da moralidade para corrigir esse tipo de injustiça e viver melhor. Acredita na necessidade da participação de filósofos nos debates públicos e nas questões práticas e chegou até a se candidatar para o Senado pelo Partido Verde australiano, mas não foi eleito. Precisamos de políticos representativos preparados para defender os animais e toda a questão em torno deles. Talvez precisemos de alguém como um ombudsman.

FILOSOFIA ● Na tradição filosófica, os animais nunca foram considerados. Alguns pensadores como Tomás de Aquino e Aristóteles diziam que os animais deveriam servir o homem. Ultimamente, a Filosofia da Mente tem tratado questões como essa, com filósofos como Daniel Dennett, que abordam em seus estudos a cognição animal. Desde quando esse paradigma mudou e qual o espaço e os entraves que encontra no meio filosófico? Você acha que o espaço destinado aos animais na Filosofia hoje é suficiente?

Peter Albert David Singer ● Bem, está bem melhor agora que na época de Tomás de Aquino ou Aristóteles! Hoje em dia existem muitos trabalhos sobre animais em Filosofia e Política. E, além disso, agora há uma disciplina de “Estudos de Animais,” que estuda animais do ponto de vista de várias disciplinas, incluindo História, Letras, Sociologia, etc. (Haverá um grande congresso sobre esse assunto em Utrecht, na Holanda, em julho, chamado “Minding Animals.”) Mas é suficiente? Não, particularmente quando se considera o grande número de animais que seres humanos influenciam, em tantas maneiras diferentes, e o número de espécies com capacidades diferentes.
FILOSOFIA ● Você argumenta contra o Especismo e defende os direitos de igualdade e os direitos básicos para os animais. De que forma esses direitos deveriam ser assegurados?

Singer ● Precisamos que as pessoas sejam informadas sobre essas questões e de um sistema político que responda às preocupações públicas sobre os animais. Questionários com a opinião pública mostram uma forte oposição contra a crueldade com os animais, mas, no geral, as pessoas não são bem informadas sobre o que acontece a eles em lugares escondidos, em fazendas, laboratórios ou matadouros. Precisamos de mais informação, talvez por meio de instalação de webcans nos locais onde animais servem para propostas comerciais. E precisamos de políticos representativos preparados para defender os animais e toda a questão em torno deles. Talvez precisemos de alguém como um ombudsman de animais, algo como um cargo em setor público especificamente para proteção dos animais. Este é o tema do livro de um colega australiano, Siobhan O’Sullivan,Animals, Equality and Democracy.

FILOSOFIA ● A sua opinião sobre experimentos com animais é de que, não é que eles não devam ocorrer, mas que o benefício da pesquisa tem que ser maior do que os danos a eles. Como funciona essa equação, na sua visão, o que está errado com os experimentos na atualidade e como acha que deveria ser?

Singer ● O que está errado com experimentos atuais com animais é exatamente que o real valor dos danos não é devidamente considerado. Se fosse, jamais faríamos grande parte dos experimentos com animais que são hoje realizados, muitas vezes para resultados triviais, como o para testar a segurança de colorantes de comida, por exemplo.

FILOSOFIA ● Uma das suas obras famosas é Libertação Animal e você é bem conhecido pelo ativismo na área de direitos animais e por seu veganismo. Hoje em dia, muitas pessoas escolhem a comida orgânica e a carne de animais livres. Essa é uma alternativa eticamente viável?

Singer ● É certamente melhor para os animais a chamada comida orgânica do que a alimentação de carne, ovos e produtos lácteos industrializados. Mas a etiqueta do “orgânico” e até “orgânico e livre” não diz nada sobre como os animais são transportados e mortos. Um outro assunto com o qual deveríamos nos importar é sobre a “pegada de carbono” de nossa comida, e, nesse aspecto, os orgânicos não são sempre melhores que a comida industrializada. Na verdade, para a carne é pior! Isso é porque leva mais tempo para um gado engordar se está comendo grama no lugar de estar comendo grãos. Digerir a grama produz mais metano do que o grão, logo, um gado alimentado na indústria produz menos gás metano para o ambiente.

FILOSOFIA ● Você acha que é possível que animais em cativeiros possam ser tratados decentemente?

Singer ● Somente se os interesses dos animais forem priorizados, e não forem subordinados aos interesses dos humanos.

FILOSOFIA ● A Ciência e a Filosofia são complementares na navegação de questões polêmicas em Bioética, como o aborto e a eutanásia?

Singer ● Sim, são complementares. Mas aplicar a Ciência corretamente não significa responder aos problemas éticos. Por exemplo, no caso do aborto, a diferença entre as pessoas que são contra mulheres decidirem fazer um aborto e as que estão a favor disso, não é baseada em nenhuma declaração fatual. Poderíamos concordar que o feto é um ser humano vivo individual, mas ainda poderíamos negar que há direito à vida. O assunto moral do aborto se constrói na pergunta: quais características um ser tem que possuir para que seja considerado errado matá-lo? Como eu discuto em outro livro, Éticos Práticos, não acho que a resposta dessa pergunta possa ser, simplesmente, porque o ser é um membro da espécie Homo Sapiens.

FILOSOFIA ● No Brasil, há 7 anos está engavetada um decisão sobre o aborto de fetos anencéfalos. É um tema que leva em questão aspectos religiosos e tradicionais. Alguns filósofos citam a questão do aborto para além do certo e do errado. Como você acha que essa questão deveria ser tratada, então, de forma prática?

Singer ● Não, não transcende a questão de certo ou errado. No entanto, como digo em detalhes nos livros Practical Ethics, Rethinking Life and Death e Writings on an Ethical Life, não é errado abortar um feto antes de que ele possa sentir dor, o que é apenas possível depois de mais ou menos 20 semanas de gestação – ou seja, muito depois que a maioria de abortos são feitos. Mas, mesmo depois dessa etapa, na minha opinião, o aborto não é sempre errado. Caridade não seria um dever. Mas, de um ponto de vista utilitarista, devemos fazer aquilo que resulte nas melhores consequências para todos, e, então, seria errado não fazê-la.

FILOSOFIA ● Suas ideias sobre o ser humano e a Bioética vêm de um conceito filosófico que diz que a qualidade de vida tem importância fundamental. Os novos estudos da Neurologia e da Medicina influenciam suas ideias sobre Bioética? Por exemplo, existem pesquisas que mostram que é possível ter atividade neurológica em pessoas antes consideradas “vegetais”...

Singer ● A evidência mencionada diz somente algo sobre uma parte específica de minhas opiniões sobre o ser humano, neste exemplo, de como devemos lidar com uma pessoa em estado vegetativo persistente. Em alguns casos, podemos captar imagens do cérebro que mostram que o sistema nervoso central foi destruído, e, portanto, não pode haver nenhuma consciência. Além disso, vale mencionar que o fato de poder haver mais atividade neurológica do que era considerado anteriormente não quer dizer que exista uma qualidade de vida positiva. É melhor ter consciência, se alguém está deitado numa cama sem capacidade de comunicar-se de jeito nenhum, ou é melhor estar morto? Isso é uma pergunta ética muito difícil de responder.

FILOSOFIA ● O que as pessoas podem fazer para viver uma vida mais ética?

Singer ● Não existe apenas uma coisa a ser feita, a menos que falemos em termos bem genéricos, como: “Considere igualmente os interesses de todos os seres conscientes.” Mas eu acredito que qualquer pessoa pode deixar de comer carne, ou pelo menos não comprar produtos de animais criados em fazendas que servirão para produtos industrializados, e que de qualquer pessoa que possua mais dinheiro do que as suas necessidades básicas se exija que ela doe para uma organização que ajude outros que estão em pobreza extrema.

FILOSOFIA ● Aproveitando a sua resposta, o seu conceito de Utilitarismo é baseado na ideia de que as pessoas que convivem com o excedente têm uma obrigação moral em ajudar aqueles que vivem com necessidades. Você acha que os manifestantes do “Movimento Ocupe” estão seguindo na mesma linha? O seu conceito de Utilitarismo identifica-se com o slogan “Somos o 99% por cento” deste movimento?

Singer ● O Movimento Ocupe acredita que o 1% das pessoas tem muito poder e influência além de deter grande parcela da riqueza global, e com isso eu concordo. Mas o movimento, que começou nos Estados Unidos como uma manifestação contra os acordos especiais feitos para beneficiar esse 1% mais rico da população americana, não é claro. Ele não reconhece que, olhando para o mundo inteiro, uma divisão maior de americanos, europeus e outras pessoas influentes, estão pelo menos entre os 5% mais ricos; na verdade, muitos dos partidários do Movimento Ocupe fazem parte desse grupo. Assim sendo, eu não ouço muito sobre a obrigação desses 5% em ajudar os mais pobres em outras partes do mundo. Talvez eles concordassem comigo nesse ponto, se eles se dedicassem a isso. Espero que um dia alcancem esse objetivo.

FILOSOFIA ● Uma de suas propostas, dentro de seus estudos que abordam a desigualdade social, diz que todos os trabalhadores deveriam entregar 10% de sua renda para resolver o problema da pobreza. Você acha que essa proposta seria viável?

Singer ● Não, não acho que é viável, e, na verdade, não é o que recomendo exatamente. Se você ler A vida que podemos salvar [editora Gradiva, 2009], ou for ao site que mantenho, www.thelifeyoucansave.org, poderá constatar que, para 90% dos trabalhadores, recomendo uma percentagem menor que essa. Apenas para as 10% das pessoas mais ricas que recomendo que deem 10% ou mais. Acho que essas percentagens são viáveis e por isso recomendo esses níveis.

FILOSOFIA ● Qual é a diferença entre um dever e um ato de caridade?

Singer ● Para muitos conceitos morais, incluindo a moralidade convencional, existem os deveres, o que quer dizer que estamos errados se não os fizermos. Mas há também ações que nos fazem bem, embora não seja errado não fazê-las. Tipicamente, a caridade é vista como algo que faz bem, mas não é um dever, então, não é errado não fazê-la... por outro lado, em alguns conceitos religiosos, pagar o dízimo, ou dar um valor aos pobres, é um dever – por exemplo, 10% para muitos cristãos e judeus. Então, oferecer essa ajuda seria um dever para alguns enquanto para outros não seria. No entanto, de um ponto de vista utilitarista, devemos fazer aquilo que resulte nas melhores consequências para todos, e, então, seria errado não fazê-lo. Neste caso, a distinção entre um dever e um ato de caridade não existe mais. Não podemos dizer que temos uma vida ética enquanto temos acesso ao luxo e outros estão se esforçando para alimentar suas famílias e não têm condições básicas de saúde Mesmo para pessoas que não são utilitaristas, eu diria que, dada a grande diferença entre ricos e pobres, os ricos têm o dever de compartilhar parte da sua riqueza com os pobres. Não podemos declarar que estamos vivendo uma vida ética enquanto vivemos com luxo e outros estão se esforçando para alimentar suas famílias ou acabam assistindo suas crianças morrerem por não conseguirem ter condições básicas de saúde.

FILOSOFIA ● Seguindo a lógica de que é mais provável que pessoas ajudem quando o sofrimento é visível, as redes sociais estão ajudando a aliviar o sofrimento no mundo simplesmente porque expõem os problemas do mundo?

Singer ● Penso que pode estar ajudando, sim. Mas não tenho nenhuma evidência real disso, e fico relutante em falar sobre assuntos fatuais sem evidência.

FILOSOFIA ● Além de ser um filósofo, você é uma figura pública. O filósofo pode desempenhar esse papel duplo ou você sente que a sua filosofia não é muito bem compreendida na esfera pública?

Singer ● Acredito que filósofos podem e devem ter esse papel duplo. Se filósofos falam somente com outros filósofos, a Filosofia fica isolada do grande público. Particularmente na área da Ética, acredito ser mais importante ainda a participação de filósofos com seus argumentos para enriquecer o nível de debate público. O preço disso, como você sugere, é um risco de que nossas opiniões sejam deturpadas. Mas é possível reduzir esse risco por meio de uma posição clara. De qualquer maneira, esse é um preço que devemos estar preparados para pagar.

FILOSOFIA ● Você já pensou em entrar no setor público?

Singer ● Já, sim. Fiz campanha para o Parlamento australiano duas vezes nos anos 90, como candidato do Partido Verde, na Austrália. Mas não esperava ser eleito porque, na época, o Partido Verde nunca tinha vencido nas zonas onde estava concorrendo. Tive a maior votação que o partido conseguiu, até aquela ocasião, nas eleições para o Parlamento australiano. Estou feliz de dizer que, agora, o Partido Verde melhorou seu tamanho político na Austrália. Nesse momento, eles possuem muitas cadeiras no Senado e uma no Congresso, o que representa um equilíbrio de poder. Esse fato, com certeza, foi responsável pela aprovação da legislação para um imposto para emissões de carbono. Mas não lamento não ter sido eleito para o Parlamento. Logo depois da minha segunda tentativa aceitei o cargo de professor de Bioética na Universidade de Princeton e acredito que, em termos gerais, tenho mais influência como professor desta Universidade do que teria como senador australiano.

(Laura Talchin é americana, formada em Ciências Políticas pela Georgetown University. Atualmente, mora no Rio de Janeiro e desenvolve pesquisas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro sobre os conceitos de cidadania e o sistema de cotas raciais, com bolsa da Fulbright.

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