Sacolas plásticas são mais ecológicas
que retornáveis e de papel, diz estudo.
Para
surpresa de muitos, um relatório da Agência do Meio Ambiente do governo
britânico, divulgado pelo jornal "The Independent" no dia 27/02/2011,
revelou que as sacolas plásticas de supermercado, que são fabricadas com
polietileno de alta densidade (PEAD), causam menos impacto no meio ambiente do
que sacos de papel ou sacolas retornáveis fabricadas com outras matérias-primas
como tecido de algodão, conhecidas como “ecobags” ou sacolas ecológicas.
Há quinze
anos, escrevi um artigo para os jornais catarinenses condenando o abuso do
consumo de sacolas plásticas nas compras de supermercado. Fui influenciado, em
parte, pelo que observei nos supermercados dos EUA durante um período que
fiquei lá, a serviço do Brasil.
Não fazia
idéia do que viria pela frente, que tema serviria apenas para as pessoas
ganharem dinheiro e para a prática do marketing enganoso de algumas empresas.
Foi uma decepção muito grande.
Contudo, ao
escrever o artigo, naquela época, eu tomei o cuidado de não propor a
substituição por sacos de papel, por exemplo. Eu já havia percebido a
irracionalidade desta proposta considerando a pressão que o setor industrial de
papel e celulose exerce sobre os remanescentes de Mata Atlântica, aniquilando a
biodiversidade, para plantar eucalipto, matéria prima na fabricação papel e,
também, o trauma de infância de testemunhar a morte de um rio, que exalava um
mau cheiro insuportável, devido ao lançamento de efluentes tóxicos de uma
fábrica de papel.
As sacolas
feitas com material oxibiodegradável, que erroneamente são chamadas de
ecológicas, é a pior solução. São mais poluentes do que as sacolas plásticas
comuns. Trata-se de um material plástico que apenas se quebra em minúsculos
pedaços (continua sendo plástico), contaminando para sempre o meio ambiente de
forma mais agressiva porque libera outras substâncias químicas perigosas à
saúde humana. Além disso, este material quando enterrado não se desintegra tão
facilmente. É IMPORTADO e custa mais caro do que o material plástico do qual
são feitas as sacolas tradicionais, que é produzido no Brasil, por centenas de
pequenas empresas que geram milhares de empregos. Estão fazendo lobby para
vereadores de todo Brasil aprovarem leis municipais que obriguem os supermercados
e pequenos comerciantes a comprarem sacolas plásticas feitas com este material
oxibiodegradável (que é importado), mais caras do que as sacolas plásticas
tradicionais, com a propaganda enganosa de que são ecológicas. E quem vai pagar
a conta? O consumidor, é claro.
Outra
matéria interessante sobre sacolas plásticas foi publicada no jornal
norte-americano USATODAY, dia 16 de março de 2011, mostrando que as grandes
redes de supermercados acabaram com os descontos como forma de estimular o uso
das sacolas retornáveis após chegarem a conclusão que esta estratégia não
funciona. Os comentários feitos pelos leitores norte-americanos foram tão interessantes
e instigadores quanto à própria matéria. Um dos leitores, por exemplo, alerta
que as sacolas retornáveis (“ecobags”) tornam-se anti-higiênicas, acumulam
germes com pouco tempo de uso. E esta preocupação não é exagerada,
principalmente aqui, no Brasil. Não é desprezível a chance de uma sacola
retornável ser contaminada com a bactéria da leptospirose, por exemplo, que tem
sido letal para muitas pessoas.
Nesta
matéria do USATODAY dá para entender como surgem estas campanhas inúteis de
ajudar o meio ambiente sem reduzir o consumo, isto é, sem fazer nada, sem
nenhum sacrifício, que acabam prejudicando ainda mais o meio ambiente. Muitas
vezes, não é por má fé que estas campanhas são inventadas por alguém, mas pela
visão muito limitada sobre as questões ambientais, sobre os verdadeiros
impactos de cada matéria prima, por exemplo. No entanto, infelizmente, para a
natureza não faz diferença se o dano causado foi feito com boas intenções ou
não.
Sacolas oxibiodegradáveis não são ecológicas
Entrevista na íntegra de Germano
Woehl Junior para um jornal de Santa Catarina em 31/08/2011 sobre leis que
vereadores estão aprovando para favorecer a utilização de sacolas com plástico
oxibiodegradáveis:
JORNALISTA - Qual sua opinião sobre esta lei aprovada em
Guaramirim?
GERMANO - É uma lei absurda. Vai prejudicar ainda mais o meio
ambiente e lesar o consumidor de Guaramirim que vai pagar a conta, porque as
alternativas existentes são mais caras. Esta campanha contra as sacolas
plásticas de supermercado são criticadas severamente por cientistas especialistas
na área e ambientalistas do mundo inteiro. Surgiu na década de 80 nos Estado
Unidos, a partir da campanha de marketing promovida por uma agência de
publicidade, sem a preocupação de ter uma análise mais aprofundada de
especialistas sobre este assunto.
JORNALISTA - Estas sacolas sugeridas, oxibiodegradáveis, são
menos prejudiciais ao meio ambiente? Ou é o contrário?
GERMANO - As sacolas feitas com material oxibiodegradável não
são ecológicas. Não é uma boa alternativa. Podem ser mais poluentes do que as
sacolas plásticas comuns. Trata-se de um material plástico com um aditivo
químico especial para se quebrar em minúsculos pedaços, que continuam sendo
plástico, contaminando para sempre o meio ambiente, já que estes pedacinhos não
poderão mais ser removidos tão facilmente de locais inapropriados. Além disso,
este material quando enterrado não se desintegra tão facilmente. As sacolas
plásticas comuns também se esfarelam quando ficam um certo tempo expostas ao
sol.
JORNALISTA - Quais os prós e contras desta mudança?
GERMANO - O plástico do qual são feitas as sacolas comuns é um
subproduto (resíduo) do refino do petróleo e vai para o meio ambiente de uma
forma ou de outra. Portanto, não há nenhum ganho ambiental com a substituição.
O plástico oxibibiodegradável é um material importado e custa mais caro que o
material plástico do qual são feitas as sacolas comuns, que é produzido no
Brasil, por centenas de pequenas empresas que geram milhares de empregos. Um
estudo cientifico da agência de meio ambiente do governo britânico revelou que
sacolas retornáveis, conhecidas como ecobags, feitas de qualquer tipo de
material, incluindo tecido de algodão, também causam mais impacto ao meio
ambiente do que as sacolas plásticas tradicionais, mesmo que usadas centenas de
vezes. Pior: grandes redes de supermercado estão importando estas falsas
sacolas “ecológicas” da China, provocando desemprego aqui, no Brasil.
JORNALISTA - Qual seria a melhor solução para acabar com o
problema do lixo gerado pelas sacolas plásticas? É mesmo necessário
extingui-las, na sua opinião?
GERMANO - O plástico está presente em quase tudo que usamos e
descartamos. Não adianta nada se preocupar apenas com as sacolinhas de
supermercado. Veja quanto plástico é usado para embalar os móveis, roupas,
eletrodomésticos, produtos de supermercado como carne, leite, queijos,
biscoitos, produtos de higiene etc. Além disso, as pessoas usam as sacolas
plásticas para acondicionar o lixo orgânico. Quem se lembra da época quando só
existiam sacolas de papel, deve lembrar também de uma cena comum, que hoje não
vemos mais, de alimentos, cereais principalmente, derramados nas proximidades
das saídas dos mercados, sobretudo nos dias chuvosos. O impacto ambiental para
produzir um quilo de alimento (combustíveis e lubrificantes das máquinas
agrícolas e transporte, fertilizantes, agrotóxicos, energia elétrica da
secagem, armazenagem, moagem etc.) é muito maior do que o causado pelo descarte
de milhares de sacolas plásticas em um aterro sanitário. E o prejuízo
financeiro para o consumidor que teve a infelicidade do saco de papel
arrebentar e perder o alimento que comprou? Uma embalagem feita de derivado de
petróleo (plástico bolha, isopor etc.) causa impacto quando descartado, é
claro. Mas os danos para o meio ambiente são muito maiores quando uma fruta ou
um eletrodoméstico é perdido por ter sido mal acondicionado durante o
transporte ou armazenagem. Há também a questão da boa higiene proporcionada
pelos plásticos, que é uma solução barata de acondicionamento que garante
alimentos seguros acessíveis para consumidores de todas as classes sociais.
(Postado por Germano
Woehl Jr.)
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