A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER E O
ESPECISMO*
O grupo
Rio+Veg (rioveg.com), formado
por ativistas de conhecidas ONGs brasileiras e por ativistas independentes,
escolheu o ViSta-se como site oficial para publicar suas atividades em prol do
tema “veganismo” na pauta da Rio+20. O conteúdo abaixo foi produzido pelo
Rio+Veg.
O livro “A
insustentável leveza do ser”, do consagrado autor Milan Kundera é um clássico
da literatura mundial. Além de sua linguagem singular, que mescla romance com
pensamentos, há uma profunda reflexão sobre como os homens agem com os animais,
a qual segue abaixo:
“No começo
do Gênese está escrito que Deus criou o homem para reinar sobre os pássaros, os
peixes e os animais. É claro, o Gênese foi escrito por um homem e não por um
cavalo. Nada nos garante que Deus desejasse realmente que o homem reinasse
sobre as outras criaturas. É mais provável que o homem tenha inventado Deus para
santificar o poder que usurpou da vaca e do cavalo. O direito de matar um veado
ou uma vaca é a única coisa sobre a qual a humanidade inteira manifesta acordo
unânime, mesmo durante as guerras mais sangrentas. Esse direito nos parece
natural porque somos nós que estamos no alto da hierarquia. Mas bastaria que um
terceiro entrasse no jogo, por exemplo, um visitante de outro planeta a quem
Deus tivesse dito: “Tu reinarás sobre as criaturas de todas as outras
estrelas”, para que toda a evidência do Gênese fosse posta em dúvida. O homem
atrelado à carroça de um marciano – eventualmente grelhado no espeto por um
habitante da Via-láctea – talvez se lembrasse da costeleta de vitela que tinha
o hábito de cortar em seu prato. Pediria então (tarde demais), desculpas à vaca
.(…) A humanidade é parasita da vaca, assim como a tênia é parasita do homem:
agarrou-se à sua teta como uma sanguessuga. O homem é o parasita da vaca, essa
é, sem dúvida, a definição que um não-homem poderia dar ao homem em sua
zoologia.
A verdadeira
bondade do homem só pode se manifestar com toda a pureza, com toda a liberdade,
em relação àqueles que não representam nenhuma força. O verdadeiro teste moral
da humanidade (o mais radical, num nível tão profundo que escapa a nosso
olhar), são as relações com aqueles que estão a nosso mercê: os animais. É aí
que se produz o maior desvio do homem, derrota fundamental da qual decorrem
todas as outras.”
Trecho completo:
Faça parte do movimento Rio+Veg!
Contato:
*Especismo
Nicola Abbagnano, em seu Dicionário
de Filosofia, define especismo como “termo polêmico usado por Peter Singer
(...) e pelos filósofos animalistas para indicar a discriminação dos seres
vivos com base na espécie a que pertençam. Discriminação que seria tão grave
quanto a distinção dos seres humanos com base na raça (racismo) e no sexo
(sexismo).”¹
A polêmica é natural quando alguma
nova concepção filosófica ou científica faz-se presente por intermédio de
argumentos racionais. Quando algo propõe-se a contestar a realidade ou o
costume vigente, ela confronta padrões solidificados há bastante tempo, e no
caso da moralidade isso se torna ainda mais grave. A ética, em geral, mexe com
sentimentos profundos do ser humano, e das entranhas dos valores éticos e morais
o ser humano constitui sua própria identidade, moldada e adaptada ao meio desde
os seus primórdios, na infância. Quando esses valores são contestados, a reação
dependerá da sensibilidade do receptor para determinadas questões – no nosso
caso, éticas – para a assimilação através da percepção racional ou da refutação
por intermédio de valores que se confundem com a própria identidade.
A lógica “animalista”, como se refere
Abbagnano, é baseada em alicerces sólidos, lógicos e racionais. A condição de
igualdade mesmo entre Homo sapiens precisa ser algo básico, que seja capaz de
enquadrar todos os seres humanos capazes de ter aspirações, interesses,
capacidade de relacionar-se com os outros, e assim por diante.
Para Peter Singer², um interesse é um
interesse, seja lá de quem for – não importa a etnia, local de nascimento ou
sexo. Só um princípio moral básico é capaz de englobar e enquadrar as
diferenças dos homens, e aceitá-lo torna imperativo o estendermos para qualquer
espécie que tenha as mesmas capacidades que possam lhes fornecer da mesma forma
o direito à vida e o respeito ao seu bem-estar.
Para os abolicionistas, o ser humano
no estágio atual de desenvolvimento tecnológico não precisa mais matar outros
indivíduos para garantir a sobrevivência. Eles acusam os especistas de
financiarem, através do hábito, o assassinato de milhões de seres senscientes e
com os mesmos interesses dos seres humanos, como não sentir fome, ter
bem-estar, ter uma vida social saudável, não sentir dor, etc. Estes fundamentos
são baseados, em grande parte no utilitarismo de Peter Singer.
¹ ABBAGNANO, Nicola.
Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
² SINGER, Peter. Ética
Prática. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Publicado em ViSta-se)
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