Saiba como algumas religiões concebem e lidam com os animais.
(Foto:
Reprodução/Papo de Pet)
A religião é uma parte essencial da
vida em sociedade. Ela é a forma de uma dada sociedade perceber o mundo,
responder questões sobre a criação e sobre o futuro, baseada em crenças que,
para seus adeptos, têm uma forte autoridade. Vale dizer que, quando falamos
sobre a religião, não necessariamente estamos falando das religiões já
conhecidas e reconhecidas no ocidente, mas de todas, desde as presentes nas
sociedades indígenas até as mais novas.
Dentro de sua sociedade específica,
todas religiões têm sua legitimidade e autoridade e, na sociedade
contemporânea, secular, também há um sistema de crenças bem característico, a
diferença é que a crença ocidental que emergiu há alguns séculos se passa como
uma não-crença: é a ciência.
Em suma, a presença da religião, ou
seja, a presença de crenças que explicam o passado, o presente e o futuro, é
sempre encontrada em qualquer sociedade, dando significado para o mundo e,
inclusive, tendo um espaço particular para indicar o tratamento sobre os animais. As
informações são da Época.
No Brasil, segundo o
último censo, do IBGE, os católicos ainda estão com o maior número, sendo
seguidos pelos evangélicos, espíritas, testemunhas de jeová e umbandistas.
Apesar de terem visões diferentes, a relação de cada uma destas religiões com
os animais tem um ponto em comum.
Algumas religiões e o que falam
sobre os animais
Segundo o Padre Juarez Pedro de
Castro, da Arquediocese de São Paulo, a igreja católica respeita e ama a todos
os animais, apesar de não conferir a eles uma alma racional e inteligente, e,
portanto, lhes destinando um destino diferente dos humanos após a morte. “A
Igreja sempre considerou a proteção e o amor aos animais como algo importante.
A própria Bíblia obriga o descanso semanal não só para o homem como também para
os animais”, disse o padre. Também podemos concluir, de acordo com sua declaração,
que para a igreja católica a exploração do trabalho animal não é condenável,
afinal, o descanso só é dado àqueles que trabalham.
“Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves
do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos
animais que se movem rente ao chão” é o que pode ser lido em Gênesis 1:26 e
“Deus os abençoou, e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e
subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre
todos os animais que se movem pela terra”, em Gênesis 1:28. Estes dois
versículos colocam sobre a criação do homem um pressuposto de superioridade.
Ele pode dominar, pode, então, utilizar como instrumento qualquer animal.
Diferentemente da Igreja Católica, a
interpretação bíblica da Igreja Adventista do Sétimo Dia realça uma
característica curiosa: “Não cremos que seres humanos e animais tenham alma,
mas sim que são almas. O conceito bíblico de “alma” não é o mesmo que o
apresentado por Platão e pela filosofia grega”, diz o consultor bíblico Leandro
Campos. “Pessoas queridas e animaizinhos
existirão novamente em nosso Planeta renovado.” Ou seja, humanos teriam se
tornado “pessoas vivas” e animais, considerados “animais vivos”,
compartilhariam, também, este processo de tornar-se “alma”.
O judaísmo, que tem como principal
escritura o Torá, tem uma visão um pouco parecida com a do catolicismo. Segundo
o rabino Ruben Sternschein, no Shabat,
dia de descanso obrigatório, os animais também são poupados e “Os animais de
corte, como vacas e galinhas, são sacrificados com cuidados especiais segundo
as leis de cashrut, visando a diminuir
o seu sofrimento ao máximo. Enfim, temos uma sensibilidade especial pelo
planeta, pela natureza em geral e pelos animais em particular”, declarou o
rabino da Congregação Israelita Paulista de São Paulo. (Eu digo: Não são tão
“humanitários”, pois o abate kosher
não tem nada a ver com “diminuir o sofrimento” dos animais.)
De acordo com Jihad Hassan Hammadeh,
da União Nacional das Entidades Islâmicas, os animais são respeitados por sua
religião, mas os cachorros não podem ser tutelados por humanos, pois, para o
islã, sua saliva contém uma substância nociva à espécie humana. Eles só podem
se relacionar com humanos se preencherem funções úteis, como cão-guia ou
cão-de-guarda. Indo completamente pelo lado oposto, a relação do budismo com os
animais parece ser de extrema igualdade, já que, segundo a fundadora da Comunidade
Zen-Budista de São Paulo, Monja Coen, nem humanos nem animais têm alma. Segundo
Coen, “Há três semanas meu cão, um Akita branco de treze anos, entrou
parinirvana. O nirvana final, a grande paz. Fizemos as mesmas cerimônias que
fazemos para quando morre um ser humano. A prece antes da morte, a logo após
morrer, a prece antes do enterro e durante o enterro e a prece que continuamos
a fazer de semana a semana. Acreditamos que até 49 dias após o falecimento
completa-se o ciclo de uma vida-morte. Assim oramos e agradecemos a vida que
compartilhou conosco e rogamos aos Budas e Bodisatvas que o encaminhem à
claridade suprema da sabedoria infinita e compaixão ilimitada”.
O espiritismo acredita na evolução do
espírito por transmigração. De acordo com o pesquisador Paulo Henrique de
Figueiredo, “Para o Espiritismo, os animais são seres espirituais evoluindo por
meio da transmigração, sem ainda possuir a consciência de si mesmo,
característica do homem. Um dia, quando ganharem a liberdade de escolha e uma
consciência contínua, reencarnarão como homens. Como intuiu Francisco de Assis,
os animais e plantas têm uma natureza que os aproxima dos homens. E numa figura
poética extraordinária, os chamou de irmãos”.
Os animais podem ser ajudados pelos
humanos neste processo, por meio de bons cuidados e ajuda incansável. “Por
isso, é importante ensinar as crianças a cuidar bem dos animais, dar a eles
carinho e proteção. Já os adultos precisam refletir sobre o estado de crueldade
e escravidão a que estão submetendo os animais destinados ao consumo humano,
como bois, porcos e galinhas. Nas granjas, os animais são tratados como coisas
sem alma, da mesma forma que os escravos eram considerados na idade média”,
afirma Figueiredo.
A
umbanda tem bases que se
relacionam com o espiritismo e, diferente do senso comum, nenhum animal é
utilizado para sacrifícios, no Brasil. Esta é uma prática que se encontra nas
raízes do Candomblé, mas que, na Umbanda, foi readaptado. “Para ingressar na
nossa Federação, avisamos que não vamos defender quem matar qualquer tipo de
bicho. Não apoiamos a matança de animais. Assim como os Espíritas, acreditamos
que os animais são seres vivos e possuem alma”, revela Pai Salum, da Federação
de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo. Entretanto, assim como o
espiritismo, a umbanda também não tem no veganismo uma prática obrigatória,
como continuação da ética para com os animais.
E o abolicionismo?
Estes foram relatos de algumas das
religiões mais populares e mais influentes. Com certeza não é o relato de todas
as religiões, mas é uma fatia importante para se observar que, praticamente em
todas (com exceção, talvez, do budismo), nenhuma delas toma um ponto de vista
abolicionista em relação aos animais. O respeito aos animais é sempre
contornado por citações ou regras que permitem algum tipo de exploração, que é
equilibrada com outras regras que obrigam os humanos a terem algum respeito com
os animais.
As religiões, como qualquer outra
criação social, é fruto de seu tempo. Se há um certo tipo de exploração que não
é considerada ruim, execrável, ou passível de punição, como a alimentação ou o
uso de animais para serviços ao homem, esta exploração supostamente legítima é
fruto de uma concepção datada historicamente a respeito dos animais.
Se a visão religiosa sobre os animais,
que permite sua exploração, foi criada socialmente, então ela pode
também ser modificada socialmente. Não há nada, além da força do
conservadorismo e do comodismo, que impeça uma guinada ética a favor dos
animais.
(Publicado em Rede
Bichos)
*** Como tudo no mundo evolui, as religiões também têm de fazê-lo, pois
não se admite mais o que fazem com os animais e os conceitos que abraçam. Está
na hora de se modernizar em alguns aspectos. Um deles é em relação aos animais.
“Faça o que eu digo e não o que eu faço.” Esta parece ser a forma de existir
das religiões em geral. Chega de exploração. As religiões que não consideram as
suas relações com os animais não podem sobreviver. Aos poucos, serão atropeladas,
como já está acontecendo com o candomblé, o batuque, etc., ou seja lá como se
chamem.
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