AS QUATRO FASES NA VIDA DE UM PROTETOR
(Fakkema escreveu na esperança de ajudar seus colegas a acelerarem seus
próprios progressos em direção a uma vida mais tranquila e produtiva.)
A maioria de
nós, que trabalha em prol dos animais e dedica sua vida a eles, passa por estas
quatro fases na evolução de nossa carreira. Cada um tem sua história, mas o
processo é similar. Se sobrevivermos a este processo, conseguimos valorizar o
que já conquistamos e o que queremos de verdade.
Fase 1 - Determinados, estamos decididos a mudar o mundo.
Sabemos que
podemos fazer diferença, que nossos esforços em favor aos animais vão aliviar
suas difíceis condições. Trabalhamos o que parecem ser 25 horas por dia e ainda
assim estamos com energia. Nosso entusiasmo ultrapassa os limites, nossa
capacidade de aceitar desafios é infinita.
Comemos,
dormimos e vivemos para a causa animal. Nossos amigos não entendem nossa
obsessão e afastam-se, ou nós os abandonamos, pois encontramos novos amigos.
Alguns, contudo, não fazem novos amigos, estão muito ocupados trabalhando na
causa animal.
Alguns de
nós eremitas, apenas a companhia dos cães e gatos os separam do total
isolamento. Todavia estamos satisfeitos porque trabalhamos para uma causa. Em
nosso entusiasmo tentamos encontrar soluções simples para problemas complexos -
Todos os animais devem ser castrados - Nenhum animal deve ser sacrificado!
Estamos
sempre atrasados porque tentamos resgatar animais de estradas e ruas. Achamos
que entendemos o problema e sabemos que podemos solucioná-lo, basta as pessoas
que não ajudam saírem do nosso caminho.
Fase 2 – Culpamos-nos pelo insucesso. Isto nos destroi ...
Nosso
entusiasmo inicial tornou-se amargo. Vemos as mesmas pessoas abandonando
animais. Elas não ouvem nossa mensagem. Até mesmo nossos amigos (aqueles que
ainda não nos abandonaram) não compreendem nossa angústia. Parece que não
conseguimos mudar nada, nem ninguém.
Os animais
ainda são maltratados e negligenciados. O sofrimento dos animais continua
apesar de todos os nossos esforços. Perdemos a energia sem fim que tínhamos na
antes. Não queremos mais falar sobre o trabalho, e nem mesmo admitimos onde
trabalhamos. Estamos cansados todo o tempo. Parece que passamos o dia todo na
luta em prol aos animais. Quando chegamos em casa, fechamos as portas,
desligamos a secretária eletrônica e fechamos as persianas. Estamos muito
exaustos para cozinhar, partimos para fast
food, pizza, batatas fritas ou chocolates.
Alguns de
nós compram objetos desnecessários que nem ao menos podem pagar. Alguns partem
para o alcoolismo para tentar afastar o sentimento de desesperança.
Ignoramos
nossa família e até mesmo nossos próprios animais não têm mais a atenção
devida. Parece até que não temos forças para por em ação nenhuma das mudanças
que nos impulsionaram na fase 1. Ficamos horrorizados com o trabalho que
fazemos. Até mesmo nossos sonhos são repletos de horrores. Cada animal que
resgatamos e sacrificamos é um lembrete de nosso fracasso.
De alguma
forma nos culpamos por todo este insucesso. Isto nos destroi ...
Nosso escudo
de defesa torna-se cada vez mais alto, bloqueando a dor e a tristeza. Apenas
ele faz nossas vidas de alguma forma mais toleráveis.
Apenas
continuamos porque dentro de nós ainda resta uma fagulha da fogueira de energia
da fase 1.
Fase 3 - Estamos enlouquecidos de raiva.
A depressão
da fase 2 transformou-se em raiva. Estamos enlouquecidos de raiva. A
desesperança chegou ao limite! Começamos a odiar as pessoas. Toda e qualquer
pessoa, com exceção daqueles que dedicam suas vidas em prol aos animais da
mesma forma que nós fazemos.
Odiamos até
mesmo nossos companheiros de causa quando ousam nos questionar. Especialmente
sobre sacrificar animais. Ocorre-nos: “ Vamos sacrificar os proprietários, não
os animais! Vamos sacrificar aqueles que maltratam e abusam dos animais no
lugar deles!”
Nossa fúria
expande-se para nossa vida particular. Para o cara no trânsito. Aquele que está
em nosso caminho na rua. Pensamos:”Vamos sacrificá-los também!”
Odiamos
políticos, TVs, jornais, nossa família. Todos são alvos de nossa fúria,
desprezo e ódio. Perdemos nossa perspicácia e eficiência.
Não
conseguimos nos reconectar com a vida. Até mesmo os animais que acolhemos
parecem de certa forma distantes e irreais. A raiva é a única ponte para nossa
caridade. É o único sentimento que penetra em nosso escudo.
Fase 4 - Enfim reconhecemos nosso verdadeiro potencial para ajudar os
animais.
Eu sei que
estive em todas as fases em meus trinta anos de proteção animal e a fase 4 é,
de longe, o melhor ponto a se atingir. Algumas pessoas estacionam na fase 1
(fanáticos) ou 2 (depressivos) ou 3 (irados). Alguns voltam da 4 para a 2 e a
3, ou ainda, da 4 para 3 ou da 4 para a 2.
Alguns
abandonam o trabalho voluntário durante as fases 2 e 3 e nunca mais voltam.
Alguns conseguem passar para a fase 4 rapidamente, enquanto outros levam anos.
Alguns nunca atingem a paz que os permite seguir servindo ao trabalho
voluntário. Eles atuam a vida inteira no frenesi da fase 1 ou estacionam
definitivamente deprimidos ou raivosos.
Com o tempo,
a depressão da fase 2 e a raiva da fase 3 podem tornar-se renovadas através de
uma nova determinação e compreensão de qual é realmente nossa missão. Esta é a
fase 4.
Percebemos
que trabalhamos de forma mais efetiva localmente e em alguns casos
regionalmente, ou até mesmo nacionalmente. Não resolvemos o problema (quem
poderia?), mas fazemos uma grande diferença para dúzias, centenas e até
milhares de animais. Mudamos a visão daqueles que nos rodeiam a respeito de
proteção aos animais. Começamos a compreender qual é o papel mais adequado para
nós na sociedade, e começamos a perceber que somos mais eficazes quando
balanceamos nossa vida pessoal e vida de voluntário.
Compreendemos
que o voluntariado não deve preencher todo o nosso universo. Se dermos a devida
atenção também a nossas vidas, podemos ser mais eficientes no voluntariado em
prol aos animais.
Férias e finais
de semana devem ser curtidos! Ao voltarmos estamos renovados e prontos para
encarar os desafios diários. Vemos que as pessoas não são tão más. Percebemos
que a ignorância é natural e na maioria dos casos é curável. Sim, existem
pessoas realmente más que abusam e negligenciam os animais, mas são minoria.
Não os odiamos.
Reconhecemos que as soluções são tão
complexas quanto os problemas e trazemos um grande número de ferramentas para
solucionar esses problemas. Nossos escudos se abaixam. Aceitamos que tristeza e
dor são parte de nosso trabalho. Damos um pequeno passo por vez.
Paramos de
mascarar nossos problemas com drogas, comida ou isolamento. Enfim, reconhecemos
nosso potencial para ajudar os animais. Estamos mudando o mundo.
Autor: *Douglas Fakkema, publicado na revista Animal Sheltering, de abril de 2001.
Tradução: Janaína Brasílio.
(*Doug Fakkema conduz palestras sobre métodos de eutanásia
para animais nos Estados Unidos. Atuou como diretor dos abrigos de Oregon e
Califórnia por 19 anos.)
(Publicado em bichoderua.org.br)
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